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Absenteísmo dos pais e infantilização dos filhos: um binômio desastroso
Professor Henrique Vailati Neto
Temos constatado um fenômeno que parece atingir a um espectro socioeconômico cada vez mais amplo e de consequências perigosas: a ausência maior dos pais do convívio familiar e, como corolário, uma infantilização equivalente dos filhos.
Não há que se discutir e, nem mesmo, aqui, explicar a inelutável necessidade dos pais de cuidar da sobrevivência e, assim, em dedicar menos tempo à educação dos filhos: questão que atinge de forma mais intensa e cruel às mães numa cultural patriarcal que, ainda que moribunda, tem permanências poderosas que sobrecarregam a elas.
Tal ausência tem provocado um complexo de culpa nos pais que acaba, entre diversas consequências, por provocar cuidados excessivos que estão produzindo uma geração carente e mimada: carente pela mal trabalhada ausência dos pais e mimada pela tentativa, muitas vezes equivocada, de suprir tal ausência por um zelo excessivo e inadequado.
É cada vez mais frequente, no cotidiano da vida escolar, pais que pouca atenção dedicam aos filhos serem tomados por uma verdadeira fúria protetora quando os mesmos, sentindo-se desprotegidos, a eles recorrem: tentativas equivocadas e ineficientes de compensarem omissões acabam por gerar um protecionismo indevido e causador de um prolongamento da infância ou da acentuação dela.
Não custa lembrar que, quando se tem pouco tempo para uma atividade essencial como educar os filhos, é obrigatório dar o máximo de qualidade a esse tempo, é fazer valer o convívio familiar pelo diálogo pela proximidade humana: nada mais deprimente do que almoços em família condenados pelo digitar de celulares.
Como quase tudo na vida a escassez deve valorizar o escasso e, no caso de um bem irrecuperável como o tempo, tal economia do essencial é vital.
(Fevereiro de 2019)